Tuesday, November 11, 2008

7:20

7:20, o despertador toca...

Depois de 3 ou 4 snoozers abro a persiana do quarto, olho para as janelas dos meus vizinhos na esperança de encontrar uma vizinha jeitosa (que não existe!), semi-nua a tomar o pequeno almoço e a sorrir para mim estilo anuncio de televisão... O velho do 3º andar do prédio da frente está a olhar para mim e lembro-me o quão inconveniente é sortear a próxima eliminatória da taça de Portugal à janela. Saio do banho, tomo os meus cereais e faço o meu habitual check antes de sair de casa: "chaves, telemóvel, carteira, passe de metro, livro no bolso, ok!". Carrego no botão do elevador, "f&%#-se, esqueci-me do cachecol".

Meto-me a caminho da estação de metro e há sempre aquele exercício mental que se faz se o dia de hoje está mais frio do que o dia de ontem.... "talvez não, mas está mais vento". Desço as escadas do metro e sou contageado pelo andar apressado dos que me rodeiam e debruço-me na tentativa de olhar para o "placar" que indica o tempo que falta para o próximo metro (alta tecnologia!). O metro chega, tento arranjar lugar, mas só existe um lugar livre ao lado de um gajo que não inspira grande confiança e que está a ocupar lugar e meio com a perna aberta. 2 paragens depois estou em t-centralen onde depois de uma empolgante descida de escadas a cada 2 degraus (isto não é para todos... no entanto continuo a ser ultrapassado pelo estilo da passada curta saltitante) troco para a linha azul em direcção a Hallonbergen (literalmente traduzido quer dizer montanha das framboesas).

Finalmente consigo arranjar um lugar, 2 indianos sentam-se ao meu lado (a Ericsson fica na paragem a seguir à minha) e passado 1 paragem uma sueca de 16 anos senta-se à minha frente. Eu leio o meu livro (ao mesmo tempo pondero que se calhar em vez de 16 ela tem 18 anos), ela olha para a o reflexo da janela e os indianos estão em conversa acesa e excitante e, apesar de estarem a falar inglês, não percebo nada, "se calhar estão a falar de uma nova receita de caril", penso eu. A rapariga levanta-se na estação a seguir e um sueco calmeirão deita olho ao lugar vago e não perdoa. Este gajo tem pernas compridas e tenho que me encolher para evitar os joelhos do viking calmeirão... Volto de novo ao meu livro e na estação seguinte reparo que nos assentos da frente está uma sueca jeitosa.... viro mais uma página e sinto os ossos do Micael (mais de 50% dos suecos têm este nome) na minha perna e ele não parece minimamente incomodado. Isto é normal neste país, parece que pouca gente se incomoda que a sua perna ou braço faça parte da mobília do vizinho do lado. Sou obrigado a colar as minhas pernas à parede da carruagem e ao mesmo tempo penso que na próxima vez que vir o suecão grandalhão vou espetar o meu dedo (ou outro membro fálico) na orelha do gajo, para ver se ele se importa ou não!

Fiquei distraído e tenho que voltar ao inicio da página onde estava, mas antes disso olho de novo para a sueca girinha à minha frente. É a quarta vez que olho e ela apesar de estar mesmo à minha frente ainda não olhou para mim. Passo a mão pela cara, "porra, não fiz a barba hoje", serve de desculpa. Finalmente chego a Hallonbergen, olho para o relógio e reparo que já estou atrasado. Um sueco com quem tive uma reunião há uns meses atrás está atrás de mim, então apresso o passo para não ter que fazer conversa de elevador no caminho de 5 minutos que me separa da minha secretária. Passo pelo supermercado e cheira a frango assado. Depois de 2 mini-corta-matos sou o primeiro do pelotão a chegar ao meu edifício. Entro pelas traseiras, é mais directo, mas a porta além de precisar de cartão (só depois de ouvir o "bip-bip" é que o trinco abre), é pesada para caraças.

Finalmente cheguei, "porra, outra vez atrasado....".

5 comments:

Tiago Oliveira said...
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Tiago Oliveira said...

Belo post! Oxalá que seja apenas o primeiro capitulo de uma epopeia de idiotedo na Suécia.

Qt aos calmeirões Vikings, podias tentar andar de metro com as calças descidas, para que as outras pessoas passem a respeitar o teu espaço pessoal. Garanto-te que funciona, pq é isso q normalmente faço!

Luis Carrilho said...

tenho algumas dúvidas em relação ao texto:

1-o viking ia a caminho do Vasa?tinha sinais de possuir o martelo de Thor?
2-a miuda de 16 ou 18 anos era "normal" ou uma emo girl?? (google is your friend:P).
3-os indianos são mesmo necessários ou são figurantes das ruas e escritórios de estocolmo?
4-que tal encostar a perna às miudas e fugir dos vikings!

um abraço

ManUel said...

depois de ler frases como:

"viro mais uma página e sinto os ossos do Micael na minha perna e ele não parece minimamente incomodado."

Começo a pensar que ias gostar de sentir que os ossos do Micael estavam a ir em direcção ao teu rabo!

Qualquer dia sai um post teu a comentar a tua vida normal à noite a apanhar no pacote de um viking de 2 metros de altura e a sentir os ossos por todo o lado :P

JohnnyGil said...

Bem, eu procurei arranjar alguma forma de fazer um comentário construtivo a este post, mas é realmente complicado. Falas de: velhos à janela, fresquinho matinal, gajos de perna aberta, montanhas de framboesas, vikings calmeirões, espetar membros fálicos em orelhas e frango assado. Para terminar, ainda dizes "Entro pelas traseiras, é mais directo". É assim que lanças debates sérios sobre intercâmbio cultural luso-escandinavo?